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segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Oásis no deserto de viver



 Suas mãos deslizam, úmidas, por meu corpo.

Percorrem a pele em movimentos vigorosos e simultaneamente suaves.


Por alguns momentos salvam o ser, imergindo-o em águas doces,

Dessalgando da dor que o acomete às outras horas dos dias.


Suas mãos são lenimento,

Oásis no duro deserto de viver.


Por uma hora o mundo muda para melhor.


Ahhhh !....

Quisera os ponteiros parassem  

E pudessem transformar o tempo em contentamento sereno, bonito:

Uma hora em infinito.




sábado, 26 de agosto de 2023

O milagre das palavras

 

Palavras pulam orando.

Rezando terços saltitam em orações.

Por onde passam põem pedaços de desejo,

Operando interlúdios de ações e emoções


Enquanto cruzam, se entrelaçam, rezam.

Em frases, estradas, ecoam, soam em silêncio, voam paradas.

Fazem dança, são bailes, móveis de ideias e ideais.


Palavras rezam, fazem milagres,

Erguendo altares, igrejas, construindo catedrais.


Palavras são armários de vida..

Puras de  poder, 

Dizendo e desdizendo

São milagres de falar, ouvir e escrever.


segunda-feira, 26 de abril de 2021

Destino de papel

 


A tela branca se oferece pra brincar.

Surge só, filha única, folha silenciosa,

Ansiosa por companhia,

Parceria que a preencha,

Que a tome pela mão,

Coloque no colo, dance com ela

...e a torne prenha.


Páginas puras pedem para ser seduzidas.

Sua natureza não é de ser solteira, casta.

Nascem pra casar, gerar rebentos.

Privadas de escrita não dão à luz,

Esvanecem sem alvorecer,

Morrem sem viver.








domingo, 25 de abril de 2021

Poesia em tempos de guerrra



A poesia às vezes se guarda do poeta,

Está lá. Em algum lugar dorme, hiberna.

Inverna em cavernas profundas, ansiando o ar livre das primaveras do peito,

Os passeios soltos, sem tração, sem correntes a puxá-las à força de seu leito.


Essa, que se esconde, é as dos tempos de guerra.

De alguma sorte de batalha interna,

Germe de pesadas pelejas.


Está latente: as palavras sob a pele, no avesso do corpo.

Os bolsos da mente seguem abarrotados de munição.

Há hora para disparar.


Poesia não se atira à força,

Não é arma que se descarrega por pressão.

É arte que eclode certeira, aos auspícios da emoção.






sexta-feira, 23 de abril de 2021

Na conversa com o corpo e tudo mais

 


O corpo não aprendeu a conversa das palavras.

Comunica-se com códigos que não são universais.

Dor é dor mas pode carregar e querer contar tanta coisa !...

Vem à superfície como ponta de novelo em viagem de espiral.

Antes de eclodir percorre um universo inigualável, o daquele ser.

Antes de se manifestar atravessa um mundo de história particular, 

A daquele ente vivente.


E queremos rotular, botar tarjas, arranjar um jeito de resumir o irresumível.

Condensamos mal e mal o que por bem maior seria bom olhar como único, inigualável.

Falta entendimento entre as nomenclaturas da mente e as exposições da carne:.

Planetas inúmeros em órbitas ímpares dançando ritmos variados, inusitados,

Irrepetíveis.


Humanos, escrevemos leis gerais para o colóquio do abstrato com a matéria

Enquanto o maestro - o imponderável - nos articula separada, especialmente,

No palco do incalculável, do imprevisível.


Ahhh, não dominamos nem o be-a-bá desse infinito de mistério !

Aqui estamos, por aqui passamos.... muito julgando, tudo presumindo e... nada sabendo.








quinta-feira, 22 de abril de 2021

Infernos particulares

 


Ardem a algum tempo em toda mente, coração, onde houver humanidade. 

Queimam em tragédias explícitas, em faces dolorosas, evidentemente tristes, transtornadas 

Ou desenham-se em avessos, vieses de sorrisos, flamejantes em disfarces de alegria. 

Declarados ou silenciosos, velados ou pungentes, traçam a história de todo ser vivente.

Compõem par com o céu de cada um.


Erga a mão quem não queimou em amores, 

Incendiou em insatisfações, contrariedades, decepções,

Inflamou na carne, escaldou em expectativas e desilusões.

Quem não viveu reveses, esvaído em sonhos.


Somos essencialmente labaredas.

Todos, a algum tempo, vivemos infernos particulares.

Ardemos pelo bem e pelo mal.

Serenidade é lampejo, idílio, ideal desta espécie animal.



quarta-feira, 21 de abril de 2021

Sempre na própria pele




Ninguém jamais vestirá minha pele.

Como ninguém ocupará a sua.

Quem, em verdade, sai de si e ocupa o outro ?

Nem por instantes !


Assuntamo-nos, julgamos, presumimos, projetamos 

No exercício imaginário de parecer, participar,

Sendo ilhas que se tocam, podendo beber de uma mesma fonte.

Compartilhamos a imensidão do mar.


Ouso aquilatar quem é mal sabendo quem sou.

Gasto uma vida com olhar em mim, para definir o próprio conteúdo, sem obter sucesso,

E ouso dizer do que o outro é feito, o que tem, o que não tem, 

Do que é capaz, como reage, o que lhe caberia melhor ou pior.


Ninguém nunca saberá o que o outro sente, vivencia.

Não importa o discurso.

O repertório de palavras é insuficiente para realizar a mágica.


Somos universos definitivamente distintos.

Comunicamo-nos no esforço e com o desejo de conhecer, compor...

E a realidade em verdade pouco nos permite.


Em meio a todas as trocas, seguimos sendo eu e você,

Cada um em pele ímpar, preenchido de substâncias únicas, 

Experiências absolutamente inigualáveis

E mutantes.