Ninguém jamais vestirá minha pele.
Como ninguém ocupará a sua.
Quem, em verdade, sai de si e ocupa o outro ?
Nem por instantes !
Assuntamo-nos, julgamos, presumimos, projetamos
No exercício imaginário de parecer, participar,
Sendo ilhas que se tocam, podendo beber de uma mesma fonte.
Compartilhamos a imensidão do mar.
Ouso aquilatar quem é mal sabendo quem sou.
Gasto uma vida com olhar em mim, para definir o próprio conteúdo, sem obter sucesso,
E ouso dizer do que o outro é feito, o que tem, o que não tem,
Do que é capaz, como reage, o que lhe caberia melhor ou pior.
Ninguém nunca saberá o que o outro sente, vivencia.
Não importa o discurso.
O repertório de palavras é insuficiente para realizar a mágica.
Somos universos definitivamente distintos.
Comunicamo-nos no esforço e com o desejo de conhecer, compor...
E a realidade em verdade pouco nos permite.
Em meio a todas as trocas, seguimos sendo eu e você,
Cada um em pele ímpar, preenchido de substâncias únicas,
Experiências absolutamente inigualáveis
E mutantes.